sábado, 28 de maio de 2011

Fabricando príncipes encantados

Um príncipe encantado é um sujeito que reúne as características que uma mulher acredita serem ideais em um homem. Todas elas, sem exceções, acreditam em príncipes encantados. O que muda, com o passar do tempo, é a maneira como ela opera a busca pelo seu exemplar. Quando adolescente e um pouco além, essa mulher está atrás de um sujeito que tenha nascido para essa função. Quer alguém que se encaixe perfeitamente nesse ideal, um cara que, quase que por mágica, lhe traga aquilo que ela acredita ser, naquele momento, o mais importante para sua vida.
Com o passar do tempo, o nível de exigência muda _ não cai, veja bem, ele muda. O que muda também é o modus operandi. Ela sacou que ele, o príncipe, não vem pronto, embalado à vácuo. Porém, ninguém disse que ela não poderia fabricar um. E moldar um homem ideal é bem mais fácil do que encontrar um homem ideal, o raciocínio é perfeito. E também pérfido. Como costumam ser as coisas quase todas.
Por isso ela não vai mais atrás de um sujeito intangível, daquele fantasia de perfeição, repleto de qualidades e sem nenhum defeito. Ela quer a massa mais fácil de trabalhar, só isso. Então pega o mais banal dos machos, o tipo casual, básico mesmo, nenhum item de série, nenhuma modificação muito aparente, o modelo mais simples da categoria. Um que goste de futebol, seja protetor e carinhoso, tenha uma vida financeira estável e uma barriguinha de chopp, não tenha vícios comprometedores e, vá lá, se possível, um pouco de cabelo da cabeça.
Daí ela começa a esculpir essa pedra bruta _ mas de alguma qualidade _ num produto final semelhante àquele que ela acredita ser seu príncipe encantado. Seu homem ideal. Ele, é claro, jamais vai desconfiar de nada. Primeiro por ser prosáico demais, segundo que ela usará artifícios femininos contra os quais ele não tem a menor chance. Quando _ e se _ ele se der conta, foi-se
No começo da forja, tudo é permitido e nada é obrigatório (tipo casa de swing…). Ela o aceita por inteiro, acha engraçadas suas manias, ri da sua falta de modos, compreende o futebol-churrasco com os amigos, jamais pergunta quem está ligando ou para quem ele está mandando mensagens de celular, e por aí vai. Tudo é festa, porque é na festa que se ganha o bolo. De posse do bolo, é hora de começar os ajustes.
Novamente, caras: é um processo indolor. São os sussurros de “ai, não gosto disso”, “prefiro assim”, “você fica mais bonito de tal jeito”, “não queria mais que você fizesse tal coisa”, “será que você podia fazer aquela outra coisa?”, “verde é tão mais bonito que azul, não acha, môre?”, e quando _ e se _ você menos perceber, já está do jeitinho que ela mais ou menos sempre sonhou. Vai ser automático pedir permissão pra encontrar os amigos, ou dizer quem ligou sem ela ter perguntado, deixar que ela compre suas roupas (ou pensar no que ela vai achar delas quando você for comprá-las), escolher um restaurante de acordo com os gostos dela (ou que pelo menos não a ofenda) e acompanhá-la em chás de bebê ou compras no shopping como se fossem atividades das mais divertidas.
Ela vai contemplar a sua obra, mangas arregaçadas, martelo e cinzel nas mãos, dar uma meneada com a cabeça, torcer a boca e soltar um “pra quem é, até que não ficou dos piores”.
Mas não se preocupe: se ela tiver feito um bom trabalho, você vai estar adorando isso tudo.

Nenhum comentário: